Mais uma vez, o Guia de Campo é deixado ao abandono devido a um misto de trabalho e lazer. Contudo, aqui vai uma actualização relativa à grande expedição ornitológica à região do Douro Internacional.
No fim de semana (prolongado) passado o planalto mirandês foi o centro do mundo; para além da nossa empresa científica à região - obviamente, a actividade mais importante - houve todo o tipo de eventos: um festival de cinema, o congresso internacional da gaita de foles mirandesa e um curso com os amigos burricos. Como sempre, a Irmandade da Esteva, embora desfalcada de 2 membros (ponham-se finos que ainda perdem direito à inscrição), que foram substiuídos pelo casal de alcochetenses, foi recebida de forma exemplar e hospitaleira pelos seus amigos transmontanos.
Apesar da viagem não ter começado da melhor maneira - as longas 7 horas e tal de caminho que nos fizeram chegar às 4h30 a Atenor, o pânico de conduzir um jipe vintage cuja direcção tinha vontade própria e ter assustado o resto dos viajantes com a cara de morto-vivo algures numa estação de serviço conha, tudo se dissipou no dia seguinte.
Passeios às arribas e a possíveis locais de anilhagem, conhecer a burrica recém-nascida e os terroristas bascos e alambazar-me com as belas alheiras. À noite tive a confirmação que Portugal é mesmo um penico e que toda a gente conhece toda a gente, pois no sítio mais improvável do mundo, no restaurante "O Lagostim", quando me preparava para atacar um javali assado com tomilho, encontrei um
amigo de Lisboa.
Os 2 dia seguintes foram de anilhagem. E a primeira coisa que me vem à memória é o frio! O frio que às 7h00 me congelava as orelhas e o nariz e que me anestesiava os dedos e que nem com todos os casacos e polares que levei vestidos passava. Ao longo da manhã era ver-nos a tirar roupa à medida que a temperatura aumentava até chegar a uns confortáveis 2o e tal graus. Uma espécie nova anilhada (Turdus iliacus), uma nova observada (Scolopax rusticola) e um enigma de penas que ainda hoje nos deixa a pensar em que espécie seria e que passaremos a chamar de Turdus atenorensis.
Sábado à noite ainda houve oportunidade, depois de atestarmos bem o depósito com uma jeropiga de estalo, de ir a Miranda do Douro ouvir as gaitas de foles e, pelo menos para mim, ver pela primeira vez uma actuação dos Pauliteiros de Miranda. Esta parte do programa, etnográfica, complementou o restante e tornou muito mais viva a imagem que tenho daquela região.
Domingo ainda deu tempo de ir ver umas reais e bonelis a sobrevoar as arribas, almoçar até estoirar e fazer a viagem de volta de 7 horas e meia.
Um grande bem-haja a quem nos recebeu só sendo de lamentar não ter podido ir o resto do pessoal.