Guia de Campo OST

Tindersticks - Let's Pretend
Infelizmente não há vídeo para esta música lindíssima - por ventura, das melhores feitas por estes senhores - que tem passado em repeat no meu carro nas últimas semanas, assim como desde há 10 anos (como o tempo passa...)

Monotonia?

Cheguei há pouco a casa e, agora que já jantei, pus-me a analisar este simples dia e deparo-me com uma variedade de actividades, umas lúdicas, outras profissionais, que garantem que nunca me hei-de aborrecer com o que faço (espero). Senão, contemplai:

1. Começar o dia às 8h00 com uma prelecção de 2 horas sobre anestésicos;
2. Ir com o carro à oficina porque este andava coxo de um pneu (que estive na vespera à noite a mudar às escuras);
3. Eu também andei coxo de um pneu por isso, parecia um misto de Saci com Dr. House e a meter Indometacina no sistema;
4. Acabar 1 página de BD que avacalhou irremediavelmente a história que estava a ser narrada - pelo menos, pôs os morcegos a rir;
5. Desdobrar-me na preparação de cursos e projectos (vêde, Sr. Presidente e membros da APAA como sou aplicado);
6. Como o telemóvel também é um instrumento de trabalho, passei a tarde a identificar serpentes, confirmar acções de contrabando de sapos, marcar sessões de alicatagem para o dia seguinte e aconselhar papagaios com asma;
7. Passar a tarde a estudar um golfinho-do-chile (Cephalorhynchus eutropia) e uma orca-anã (Feresa attenuata) - este é o meu veredicto, Taxonomys, confirmas? - com ganas, lá para o fim da tarde, de arpoar o c***ão do golfinho;
8. Combinar 346 saídas de campo e 234 jantares para os próximos 2 meses com o resto dos morcegos;
9. Começar a discutir as bases para um novo projecto - e, convenhamos, uma das melhores partes de qualquer projecto é esta fase de erigir fundações;
10. Lamentavelmente, ter de recusar um jantar de tostas por causa dos problemas com os pneus - o do carro e o meu - ficando eternamente apelidado de cortes por alguns dos meus amigos;

Por isso, monotonia? NOT! (Obviamente, que entramos no campo da subjectividade e para alguns este dia teria sido uma seca de morte com direito a overdose de Prozacs.)

Eu fui!

(É natural que com um símbolo tão catita só pode ter sido um excelente encontro)

É altura de fazer a apreciação de 3 dias de palestras, reencontros de amigos e conhecidos e muito mais coisas. A reportagem séria do evento pode ser encontrada aqui mas, como sempre, uma visão mais particular das coisas, mais recheada de pormenores jocosos, pode ser lida nas próximas linhas - tanto para mais, foi o próprio Sr. Presidente que pediu a apreciação gastronómica. Eu só decidi alargar um pouco mais.

Antes de tudo, um grande bem haja à comissão organizadora pelo trabalho que tiveram ao longo destes meses de preparação. Terminado o momento de graxa, sincera mas necessária, resta dizer que houve comunicações e temas muito interessantes, trocas de ideias e experiências enriquecedoras e todo o contacto social inerente a estas ocasiões. Não vou falar da minha modesta comunicação de caca, que mais parece ter criado um clima de psicose na sala e temor entre algumas pessoas. Talves pelas reguadas mentais em algumas mãozinhas, talvez pelo meu ar esgazeado, de quem dormiu só 4 horas, porque ficou até altas horas a acabar a apresentação - tenho não só a agradecer à minha já típica gestão do tempo mas também ao Dr. Salinas (ver post anterior), que não me deixou acabar a dita apresentação quando era tempo e horas.

Todos os votos de sucesso para a APAA, associação recém-nascida e na qual me inscrevi com o meu sócio a apontar-me uma arma à cabeça e que espero vir a poder colaborar no futuro. Cheira-me que não vai ser só passeios no campo e comezainas, que os gajos querem por o pessoal a trabalhar e até já tenho uns petiscos encomendados. Já agora, cadê o cartão de sócio?

Finalmente, last but not least, a paparoca. Sexta, jantar no Ponto e Vírgula, no centro do Porto, com um buffet muito bem servido, cujos pontos altos foram a salada de frango e o arroz de pato. O bacalhau com natas era muuuuito estranho mas, felizmente, não houve ninguém a queixar-se de desarranjos digestivos. A acompanhar, Penedo Gordo tinto 2006, que é um vinho alentejano (no Nuórte carago?!) e que até permitia perguntar "Queres penedo... gordo?". Almoço de Sábado na Taberninha em Avintes onde se comeu um bom borrego assado e uma sobremesa ultra-diabética-artificialóide. Jantar no PBG a repetir o bacalhau com natas.

Pensavam que ia escrever coisas feias não era? Desta vez só posso dizer bem.

tinóni

Tenho que instalar um pirilampo no capot do meu carro, que sexta-feira de manhã mais parecia uma ambulância, quando o Dr. Salinas me telefonou a pedir ajuda para 6 Limosa com dor-de-burro.

Isso... façam maldades aos bichos e depois chamem-me para resolver os imbróglios e servir de arauto de desgraça...

Realidades alternativas

Já alguma vez sonharam ser outra pessoa, um cantor famoso, com legiões de fãs histéricas ávidas de uma noite de sexo escaldante com o seu ídolo em troco de um autógrafo no mamilo direito... ou um super-herói, com poderes sobrenaturais, capaz de deitar raios pelos olhos e voar por cima da ponte 25 de Abril quando o trânsito está parado... ou ainda, aquela personagem de uma série qualquer da televisão, que gostamos de rever no canal RTP memória?

Agora, tudo isso é possível! Basta vir aqui. Bem, obviamente não se vão tornar nessa pessoa... mas ficam com uma ideia de como seriam se no vosso BI viesse escrito Paulo Bento, Ana Malhoa ou Indiana Jones.

Samouco by night

A juntar à sempre assustadora experiência de andar a chafurdar nas salinas - sempre em risco de me estatelar ou ser tragado por uma vala sem que nunca mais ninguém me encontre - ontem juntei uma nova, que foi andar aos tropeções pelos combros sem lanterna ou frontal. Mas no fim de contas, não se passou nada e é um facto que estou aqui inteiro a escrever.

Aliciados com promessas de tainadas de centenas de limícolas e, principalmente, pelas horas de trabalho normais (leia-se, nunca mais me apanham lá até às 7h00), lá se reuniu um pequeno grupo nas oficinas.

Na verdade, pouca coisa foi capturada - a luz (pois, supostamente de noite está escuro, excepto se estivermos ao lado da ponte Vasco da Gama, com os seus milhões de watts de iluminação), o vento, o frio (com direito a acender lareira e tudo) provavelmente tiveram um efeito dissuador. Apesar disso, ainda fiz a minha estreia ao pôr uma anilha num Tringa totanus.

Seixoeira (Calidris canutus)

E outra novidade foi a sessão de desenhos intercalada com a sessão de anilhagem. Acho que se está a tornar uma obcessão, saudável claro, que começa a pôr os meus amigos a revirar os olhos sempre que me vêm sacar do papel e lapiseira. Mas, mais tarde, quando me vierem pedir desenhos disto e daquilo, logo me pedem desculpa.

Ampliei ainda o espectro interesses e comecei a ver os peixes com outros olhos.

À beira de fazer 30 anos, é esta uma ideia de uma noite bem passada. A somar à quantidade de Surf trips (sim, isso mesmo), passeios e outras coisas sem juízo nenhum, das duas umas ou estou a perder o tino ou então, avizinha-se a crise de meia-idade-antecipada. O que quer que seja, já dizia a outra: Whatever!

Jantar Argentino

E pronto, era inevitável, a seguir à bonecada, nada melhor que terminar o dia a repor energias aqui:

O restaurante com melhor vista para Lisboa, com entradas gulosas e umas carnes grelhadas au point (leia-se, a esguichar sangue e a contorcerem-se no prato) acompanhadas de um molho com nome impronunciável. Como não tive companhia para o vinho, bebeu-se água.

Recomeda-se mas só em dia de S. Receber porque os preços... F***-se!!!

Tarde de trabalho

Ontem, lançado o desafio na aula, foi este o resultado de umas horas de trabalho:

Abussochromis martinhoi

Ainda com muitos erros e imperfeições, mas que proporcionou algumas horas de boa disposição. Este é um Ciclídeo descoberto recentemente no fundo do lago Tanganyka, que foi baptizado com o meu nome, graças à minha incalculável contribuição para a ciência.

Aposto que não sabiam esta, hãããã?

Rabiscos II

Reparei que alguns dos meus colegas utilizam, com mestria, os pastéis. Resolvi procurar nas gavetas um conjunto de lápis-pastel que andava perdido e fazer isto:

Phelsuma quadriocellata

Esta é uma espécie de osgas diurnas endémicas de Madagáscar e ilhas vizinhas e, para mim, o género Phelsuma tem algumas das espécies de Répteis mais ricamente coloridas, a fazer contraste com as osgas mais típicas. Devido a esse colorido e a outros aspectos interessantes do seu comportamento, são relativamente comuns em cativeiro e este exemplar foi feito a partir de fotos de um artigo da revista Reptilia (sim, como cromo que sou, tenho umas dúzias dessa revista). Um dia, hei-de as desenhar e fotografar ao vivo no seu habitat natural. Por enquanto, fico-me pelas revistas.

O veredicto? Acho que os únicos pastéis que me vou dedicar vão ser aos de Belém ou de massa tenra. Não gostei nada do resultado final mas para ser justo, não posso por aqui só as histórias de sucesso...

Rabiscos I

Para mostrar que até vou fazendo alguma coisa e que nem todos os meus desenhos ficam incompletos, eis alguns exemplares feitos nas últimas semanas:

Monocentris japonica

Este peixe-pinha foi feito pela técnica de stippling com tinta da china sobre poliéster para integrar um t-shirt-aquário oferecida no aniversário do Prof. Não era bem a espécie que pretendia fazer- o mais certo era ter feito qualquer coisa vagamente pré-histórica e vagamente estranha mas não tive tempo nem inspiração. Em todo caso, acho que foi uma boa segunda escolha.

It's official!

Este ano vou regressar em visita oficial aos states. Um misto de trabalho, participar num congresso internacional sobre cenas fixes - onde é que eu tinha a cabeça quando concordei em apresentar uma comunicação??? - e rever amigos levam-me à Califórnia no final de Maio. É claro que os binóculos e caderno de campo me acompanham para observar espécimes californianos. O certo é que vou regressar com um milhão de histórias sobre os alienígenas americanos... E a contagem decrescente vai começar!

Saída de campo

Mais um Domingo passado a fazer desenhos, desta vez no estuário do Tejo, entre as Hortas e o Samouco. Consegui convencer alguns resistentes da IC a estar presentes do nascer ao pôr do sol entre a lezíria e o rio. Como fui uma espécie de guia, carreguei sob os ombros o peso de que tudo corresse de modo perfeito. Se foi, não sei, mas até deu direito a ver águia-pesqueira (Pandion haliaetus) com um peixe nas garras.

Como se isso não bastasse, pelo menos acho que o almoço satisfez toda a gente. Boa companhia, polvo à lagareiro e dois tintos, Quinta dos Aciprestes e Fontanário de Pegões, a molhar as goelas. Fica aqui mais um registo gráfico do dia:

Noite de cinema

Tim Burton meets Tarantino, como ouvi alguém dizer. Muito negro, macabro e visualmente impressionante. Para onde foi toda a inocência dos outros filmes? Depressa, vamos ver o Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Ah, é verdade! E é um musical. E gostei.

Parabéns triplos

Há dias assim... cansativos, com um não parar de levantar copos e levar comida à boca.

Começou com o aniversário da Pocahontas, celebrado durante as aulas de IC, entre empadas e pastéis de nata. Ela até mima os colegas com coisas boas e os brindes foram feitos com Esporão Reserva, que pôs toda a gente a pintar muito mais livremente. No fundo, nós merecemos tais mordomias, no final até levou para casa, não um, mas 5 peixes para pôr no aquário (se bem que os Syngnathiformes estivessem meio desenxabidos).

Continuou com o duplo aniversário do Símio e do Fantasma que conseguiram reunir perto de 100 convivas (quem diria que têm tantos amigos?) num restaurante com um nome assustador de "Marisqueira Chinesa". O pouco marisco consumido acabou por ser as hóstias de camarão, umas gambas escondidas em chau-min e umas vieiras que mais parecia vomitado na caçarola. Também se bebeu, imperiais a rodos e um Branco do Douro chamado Planalto, que soube muito bem. Apesar da competição ruidosa com a mesa do lado, acho que o nosso grupo ganhou, nem que fosse por aparecermos todos na televisão e pela sessão de acrobacias chinesas em palco. Só estando mesmo lá para entender.

A todos, os Parabéns!

Provas

Hoje ao almoço bebi um "Monte da Ravasqueira" tinto, que é um óptimo vinho alentejano, trazido pelo Krugul. Acompanhou a bela da picanha e os amigos numa tarde descansada para os lados de Sintra.

Pela boca morre o peixe

Ontem, na aula de IC, a que já cheguei atrasado, para não andar a puxar pelo miolo a decidir o que iria fazer, pedi ao Prof que me atribuísse trabalho. Ainda a 75 % de estar concluído, parece-me que me saiu na rifa um raio de peixe complicado como tudo e que, face ao original, este Blennius ocellaris parece mais um cachucho com sarampo. Mas vamos ver se, pelo menos, este fica completo e não se vai juntar aos 3456 projectos inacabados.

Mudança de ares

Começo a suspeitar que criei uma pequena psicose com este blog... Para além das habituais queixas/ameaças "Se escreves isto no Monstro (como é carinhosamente conhecido este espaço por algumas pessoas) estás f*****!!" e pedidos de juízo blogístico,

- a verdade é que o Guia de Campo é um espelho da realidade e só relata acontecimentos verídicos. Que culpa tenho eu se esse espelho é um daqueles da Feira Popular e se só tenho acontecimentos estranhos para contar (obviamente com algumas liberdades criativas)? -

, quando cheguei hoje a Tornada pensei estar a recebido por rajadas de tiros. Mas não, eram só mesmo salvas de foguetes a anunciar o Carnaval. Como se os ovos a escorrer pelos passeios e restos de balões de água não chegassem para recordar a época...

Requisitado para dar uma mini-formação e começar a preparar outros eventos, por acaso mas só mesmo por acaso relacionados com a passarada, aproveitou-se a desculpa para visitar o paúl e dar um pouco ao alicate. Inclusivé, anilhei uma espécie nova:

Alguém adivinha o que é?

E sim, se querem saber, comi muito bem no restaurante "O Pinheiro", onde me alambazei com um polvo no forno com batatas à murro. E ainda ganhei um livro e tudo.

Resta-me agradecer ao cicerone desta manhã, e a companhia do Sócio e do Senhor Presidente, esperando repetir em breve programa idêntico.

E parece-me que acabei de ouvir uns suspiros de alívio de algumas pessoas com este post tão ajuizadinho...