Algumas semanas após regressar a casa, chego à conclusão que me podem ter tirado do Chile mas, pelos vistos, tem sido difícil tirar o Chile de mim. Mesmo a fazer esboços à pressa como o de cima, mesmo com ameaças pré-gotosas, mesmo quase ficando apeado no meio da Patagónia com o depósito do carro mais seco que os campos do Pali Ailke, mesmo levando com vento e frio no focinho - sim, porque lá o Verão só é essa estação no nome mesmo - e mesmo confrontado com fenómenos naturais e artificiais vários - devo mencionar as reuniões de nerds à hora de jantar, que me deixavam a falar sozinho com os restos de merluza margarita no prato?
Mesmo com todas essas coisas menos boas ou menos espectaculares (que chatice de ventania, não me deixa ver bem os condores ali poisados), graças às bagas de calafate, tenho a cabeça ainda a pairar pelas Torres del Paine.
O que não é necessariamente mau: agora, quando tenho de aturar gente parva, demente ou com QI de uma ameijoa (ou seja: todos os dias, várias vezes por dia), em vez de lhes dar mentalmente com uma moca na cabeça, fazendo-lhes voar dentes em várias direcções, levam com uma escarreta de guanaco na testa ou cai-lhes uma tonelada de leão-marinho em cima.
Parece que o veneno refinou, com um twist de pisco sour.
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