Regresso à (a)normalidade

Finalmente, um fim de semana sem trabalhos para pintar, exames para elaborar ou testes para corrigir. O tempo voltou a dilatar e foi possível encaixar mil e umas actividades e entregar-me a dois dias de hedonismo.

A começar numa noite de copos no bairro, com direito a assistir a sessão de strip medonha no meio da rua - vou ter pesadelos durante um mês e, na altura, pensei seriamente em vazar os olhos com as chaves de casa - passando pelo regresso ao campo para birdwatching, fotos e desenhos. Aqui a produtividade decaiu um bocadinho, graças ao calor arrasador e a uma preguicite contangiante.

Sítio das Hortas com bando de colhereiros (Platalea leucorodia).

Alguns dos bonecos feitos à sombra do pinheiro enquanto se punha a conversa em dia.

Para tratar o calor, nada melhor que passar o resto da tarde na piscina, passar pelo Solar de Benavente, que se está a tornar um sério e perigoso marco na rota dos petiscos - atenção às moelas e ao pica-pau. E aos caracóis. E às ameijoas. e aos queijinhos em azeite - e que Sábado à noite teve a presença do Gandalf a dar um concerto. A boa companhia seguiu até altas horas pela interessante e singular noite ribatejana até ao almoço com uma posta de bacalhau na brasa do tamanho do mundo. No regresso a Lisboa, ainda tempo para um desvio por Alverca, mais galhofa e mais uma prova de caracóis.

Desafio superado!

E a odisseia continua...

Deinotherium spp. (segundo reconstituições recentes)

... e hoje aprendi a photoshopar bichos extintos a partir de actuais. descansem que a febre digital deve estar a passar.

não sei o que diga

Alguém acredita que consegui fazer desde o princípio a imagem de cima? Eu ainda não.

Tcharam!

Isto que vêm em cima, senhoras e senhores, foi o meu trabalho mais bem cotado ao fim de um ano de aulas. Confesso que até gosto dos bonecos, foram feitos no seguimento de um dos seminários que mais gostei e alimentados com uma veia muito sarcástica que muito me agradou. Mas, perguntam vocês... "Ora então onde é que está a ciência nisto?". Pois, respondo eu, não sei. Mas a verdade é que se soubesse o que sei hoje, tinha feito bonecada em todos os projectos, ficavam assim muito artísticos e o meu ego andava lá nas núvens por esta altura.

Mas não... eu tinha que andar a esfurancar parasitas de peixes-luas, a medir coraçõezinhos de cobras, a dissecar bugalhos, a ler sobre passarinhos extintos do Pacífico, a fazer dúzias de desenhos preliminares de Archaeopteryx (o quê?) e a repetir até à agonia artes finais de casuares.

Ressabiado? Não...

Fodido, mesmo!

Só para terminar:

Não, o esforço não compensa.
Nem o rigor científico.
Tão pouco pesquisa aprofundada.
Projectos complexos e diferentes... para quê?

As minhas melhores prestações foram a fazer jogos e cartoons.

Decididamente, este ano foi um tiro ao lado.

Acabam-se as aulas...

... e agora é que começo a aprender:

Anomiopus spp. (sem patinhas, que dão muito trabalho)

Primeira experiência a sério com Photoshop. Até me parece que se me enterram espinhos no coração quando penso que até tem piada mexer no programa...

Acabou-se a papa doce

Depois de uma série de episódios de azia, indigestões e outros distúrbios do foro digestivo que afectaram o mestrado em bugalhologia, a coisa até terminou de forma tranquila.

A inauguração da exposição decorreu de forma ordeira, com grande afluência de gentio, amigos e família, certamente atraídos por martinis de borla e tortas Dancake.

- Abro aqui um parentesis para relembrar que todos aqueles que não compareceram ao evento, apesar do belo convite, ainda vão a tempo de visitar o espaço e gabar os meus desenhos. Se bem que, devo dizê-lo, quem não apareceu está em risco de ir parar a uma lista bem negra -

Para além dos aperitivos também havia desenhos e ilustrações várias, foi uma oportunidade de rever alguns amigos e conhecidos e sofrer ausências mentais várias.

Seguiu-se jantar na Quinta das Conchas com muita fotografia e galhofa à mistura, que terminou com o assassinato da tarde de limão da foto em cima. Quanto às apreciações gastronómicas, o buffet tinha algumas boas apostas, como a salada de polvo e o bacalhau com natas e outras bastante mázinhas, como os rissóis ressequidos com recheio de ar e a lasanha recheada com borracha.

Segue-se o devido descanso. Ou não. Porque ouvi dizer que se vão suceder uma série de mega-parties.

volte-face...

... ou a cereja no topo do bolo. Bem podre, por sinal.

Ah e tal e projectos?

Pois, houve alguns... Se calhar, demasiados e demasiado complexos que quer-me parecer que podia ter feito algo como um único desenho com várias espécies de caracóis fósseis a acasalar sobre uma couve a crescer numa horta com vista para o mar (ou traduzindo: comparação + no tempo + vista especial + habitats vegetais + comportamento + Sines + alguma liberdade criativa). Mas não... quis fazer coisas assim mais para o escaganifobético como:

... ilustrar toda a evolução e filogenia dos Drepanídeos do Havai, incluindo espécies extintas e sub-fósseis...

... descrever ciclos de vida de parasitas do peixe-lua...

... ilustrar a evolução das Aves, desde o Jurássico até aos dias de hoje...


... entrar dentro do coração das serpentes...

... e retratar simbioses nas florestas de carvalhos.

Valeu a pena? Ainda não sei.

Teorias dos bonecos

Apesar de provavelmente não vir a aplicar nada do que aprendi às 4ª feiras, gostei do que aprendi e foi um pouco voltar a tomar gosto em aprender coisas apenas pelo prazer de saber coisas. É verdade, gostei das máscaras, dos fotógrafos do século passado, dos caracteres maias, de montar jogos, de comer chocolates, das entrevistas à Paula Rego e de fazer trabalhos de grupo bem fixes, ainda que completamente em contra-relógio. Dispensável só mesmo as histórias dos gigantinhos, dos chapeuzinhos mágicos e dos segredinhos. BORING!!

Cenas assim fundamentais

Passarinhos, é claro! Quer sejam galos ou Phylloscopus ibericus.

Finalmente!

Acabou o primeiro ano do mestrado em bugalhologia e outras cenas, às vezes científicas - bastante aquém do que eu desejava - às vezes, artísticas - e aqui, dou os braços, as pernas e o nariz a torcer, pois as mais-valias para a minha formação visual vieram sobretudo desta área. Desde fundos em pastel seco, passando pelos pais da fotografia nacional, até técnicas obscuras de usar x-actos para montar caixas.

Foi um ano de vários momentos de azia e de revirar olhos e em que o alter-ego "Dr. Veneno" apareceu em várias ocasiões. Às vezes, era mais o incrível Hulk. Mas só atirei com mesas pelo ar na minha cabeça e nos meus desenhos. Por isso, antes de tudo, ganhei o grau de mestre chato.

Se o saldo foi positivo? O da conta bancária, não foi certamente. Aguardar pela devida digestão dos acontecimentos. Até porque a procissão ainda vai no adro!

Próxima paragem: Museu do Traje.

Mas antes, se me permitem partilhar, alguns bonecos!