domingo, outubro 29, 2006

Devia era já estar a dormir mas enfim...

Decerto conhecem aquela máxima, que homem que é homem deve plantar uma árvore, escrever um livro e fazer um livro. Nada portanto a ter que ver com o cromossoma Y, comprimentos de certas partes da anatomia masculina ou quantas babes se consegue papar numa festa. De qualquer modo, e invadido por uma onda de introspecção decidi avaliar a minha situação:
Árvore- as sementes que trouxe do monte vinham estragadas pois a única coisa que ganhou raíz foi bolor por toda a parte. Só uma mísera uva-de-cão é que vingou, mas não passa de uma trepadeira. Mas agora me recordo que no secundário plantei um cedro num canteiro qualquer na escola. Está certo que era para um trabalho de TLB, mas menos mal. Checked!
Livro- para além de artigos científicos completamente revolucinários (dois deles até vêm indexados no PubMed. Ah pois é!), está na forja algo mais. Vou ter que esperar alguns meses para poder por um checked neste tópico.
Filho- até ao momento e por meu conhecimento as únicas crias (adoptivas) aos meus cuidados têm 2 cm de comprimento, são cabeçudos, respiram por um sifão e têm patinhas a crescer. Ainda bem que saem aos pais biológicos. UNchecked
Portanto cumpri 1/3 da minha masculinidade (abençoado cedro), o que não deixa de ser manifestamente pouco (se bem que ainda não quero criancinhas à minha roda; a propagação da espécie fica para mais tarde). Para afogar as mágoas e ver as coisas de uma outra perspectiva, quiçá mais turva mas saudável, é que se começou a combinar hoje à noite na esplanada do café um daqueles nostálgicos fins de semana à antiga com o pessoal. Espero bem que sim, já tenho saudades de 48 h de excessos alcoólicos e gastronómicos, nuvens de fumo ilícitas e a desresponsabilização completa e total dos meus actos (estou cansado de ser certinho). Mas isso só depois das férias! Até lá tenho uma internacionalização e vários estágios pelo caminho

sábado, outubro 28, 2006

Estou-te a ver!

Never ending story

E para compensar o deserto de escrita que foram os últimos dias cá vai mais um post.
Não é que me considere uma pessoa excessivamente negativa, mas há uma série de coisas que me irritam profundamente e que despertam o Mr. Hyde que há em mim. Hoje de manhã, enquanto trabalhava (pois é, hoje é sábado e aqui o mouro esteve de serviço... como todos os sábados), tive de gramar com algumas delas e, azar dos azares, tive que manter o sorriso pepsodent número 32 como convém a qualquer pessoal extremamente profissional. Mas isto levou-me a pensar: "que mais coisas me deixam fodido?". É certo que a lista é grande (daí o título do post) e sempre crescente mas mesmo assim não me deixei intimidar por tamanha tarefa. Eis a LISTA DE COISAS QUE ME DEIXAM FODIDO!!
  1. Excesso de informação. Pode variar, desde alguém que entra na sala e dizer "Bom dia! Eu sou médico/a e tenho uma filha asmática", passando por "como não comia, mastiguei a comida e dei-lhe à boca" até senhoras gordas e anafadas, com idade para serem minha mãe, que levantam a camisola para mostrar as banhas arranhadas pelo seu parceiro sexual. O facto de estarmos a falar de um periquito, de uma iguana e de um coelho, respectivamente faz-me pensar que ando a ser exposto a doses muito pouco saudáveis de surrealismo.
  2. Falta de educação. Pronto, confesso que também digo umas caralhadas e que quando conduzo não sou um exemplo de boas maneiras mas antes de entrar costumo bater à porta, por exemplo. Nem que seja para evitar que bandos de pássaros esvoacem porta fora. Havia um senhor que fazia isso (mais exactamente, batia à porta e de seguida, escancarava-a) mas desde que deparou com 2 dinossauros à solta na sala até lhe saltou o bigode! Meus amigos: por isso não é nada saudável ter este irritante hábito, especialmente quando estou eu dentro da divisão... nunca se sabe que animal peçonhento vos posso soltar em cima.
  3. Interferências sonoras. É muito desagradável estar a trabalhar tendo como ruído de fundo motores de carros fórmula 1, senhores neozelandeses envolvidos em rituais Maori ou casamentos hablados en coño. Especialmente se a algazarra é toda emitida por um certo e determinado computador quando certa e determinada pessoa, em vez de estar a fazer coisas mais produtivas, lhe carrega as teclas. Sem esquecer que há pessoas alheias a isso tudo e que podem achar, não sei... estranho? entrarem na sala e ouvirem tudo isso.
  4. Famílias numerosas. Eu bem tentei fazer o meu local de trabalho pequenino para limitar a entrada desses enxames que, a toda a hora, me entram dentro da sala aos guinchos e saltos e a mexer em tudo o que lhes apareça à frente. Não tenho nada contra crianças, especialmente as bem comportadas, mas não tenho propriamente ar de educador de infância para meninos-queques-mal-comportados. Geralmente tenho que esperar que os progenitores ponham ordem na prole mas o que me apetecia mesmo era pô-los todos em fila (incluido os paizinhos) e trás-trás-trás! distribuição de chapadas!

Como vêm, tudo isso só numa única mísera manhã de sábado, em que eu podia era estar noutro lado qualquer (provavelmente a roncar na cama). Prometo ir completando esta lista (o que não falta no meu dia-a-dia são episódios destes a toda a hora). Também aceito contribuições do público (e já agora, podem ser em dinheiro ou cheque pois, para variar, só devo receber lá para meio do mês).

Pistas...

Os observadores mais perspicazes poderão adivinhar para onde vou dentro de 1 semana se identificarem as seguintes espécies:

Bastante fácil, não? (é verdade, foi aqui o artista que fez os bonecos. Nem sei onde vou parar com tantas qualidades...)

Countdown

Por esta altura em que as minhas inúmeras legiões de ávidos leitores imaginários se indagam sobre o meu paradeiro nos últimos dias, eis que retorno após várias semanas de dura labuta em que consegui levar a cabo as seguintes hercúleas tarefas:
1º foi com os dedos em sangue de tanto escrever e com os nervos ópticos gastos de tanto olhar para o ecrã do PC que terminei mais uns capítulos desse que será o futuro best-seller da literatura portuguesa do século XXI;
2º ganhei uma tendinite de tanto pipetar amostras no instituto no âmbito do meu trabalho-de-tese-de-mestrado-quase-prémio-nóbel e inclusivé, poderei ter descoberto o primeiro positivo para Microsporideas... Bwah-ah-ah (riso maléfico) cuidado, anilhadores incautos! Eles "andem" aí;
3º Os meus 2 neurónios trabalharam árduamente para destrinçar casos clínicos obscuros e salvaram as vidas de inúmeros inocentes;
4º Mais reuniões de trabalho para essa obra da consultoria e gestão ambiental que será o projecto que temos em mãos;
5º superei estoicamente a dura prova de não ter conseguido bilhetes para o concerto de Muse (esgotadíssimo há mais de 1 mês); inclusivé tive de atender chamadas de amigos que perguntavam "então não vais?" e azar dos azares, tive de passar perto do Campo Pequeno no precido instante em que os felizes espectadores saíam do concerto. É claro que tive de compensar este trauma ouvindo todos os albúns nas minhas inúmeras viagens de carro a um nível decibelmente intolerável para alguns dos meus amigos;
6º Consegui ir a Sagres ver os imigrantes (aqueles com penas e que não fazem fila à porta do SEF) em passagem para... África! O que me leva à questão de fundo:
Dentro de 1 semana já estou de férias num novo continente e país! Vai ser a manhã na selva, a tarde na praia e à noite... logo se vê. Daí a contagem decrescente. Daí na próxima semana eu estar completamente "ausente" pois as pessoas e os sons vão-me parecer como o hiperespaço na guerra das estrelas à medida que caminho para 6ª feira. Não que esta ausêcia faça muita diferença... às vezes parece que trabalho noutro planeta qualquer (um em que equanto trabalho se ouve em ruído de fundo alguém a ver jogos ou corridas de fórmula 1 no PC).

sexta-feira, outubro 13, 2006

quanto mais as coisas mudam, mais ficam na mesma...

A realidade atingiu-me como se tivesse levado com a serra do Gerês inteira na cabeça (mais calhau menos calhau)... quando retornei à civilização constatei (já sem surpresa) que ainda não tinha recebido. O devidos euricos lá acabaram por entrar no dia 12, o que já se está a tornar uma triste rotina desde Junho.
Com coisas destas lá se foi toda a veia poético-bucólica do post anterior; ou melhor, estas coisas começam a passar ao lado e a vincar-me algum traço de cinismo, apesar de garantidamente não me acomodar. Isto acaba por se entranhar dentro de mim como um ninho de invertebrados com muitas patas num burado no tronco de uma árvore(o nome do bicho começa por P...) e tornar-me a saliva mais cáustica. E eu até nem desgosto do sarcasmo...
Daqui para a frente a canção que a xana canta enquanto salta alegremente de flor em flor a chamar pelos lobos vai-se tornar numa hino de guerra gritado por um gnomo de cara bexigosa enquanto piso cogumelos venenosos a conduzir uma matilha de cães raivosos.
Mas o problema deve ser meu... até porque se calhar para muita gente o m~es só deve começar ao dia 12...

segunda-feira, outubro 09, 2006

Na companhia das Xanas, Bitxos bravos e ratos flamejantes

É incrível como uma semana passa depressa, especialmente se estou envolvido em actividades que me dão prazer. É verdade... a semana de férias terminou e resigno-me a trocar a floresta de carvalhos pela floresta de betão e em vez dos badalos das vacas num lameiro lá longe ou da chuva a cair vou passar a ouvir as buzinas dos automóveis que passam na minha rua.
Quantas coisas cabem numa semana? Quantos pássaros cabem na minha mão enquanto outros teimam em voar? Quantas histórias consigo ouvir antes de adormecer? Quantas paisagens de montes e fragas podem os meus olhos ver? Quantos trilhos e caminhos posso percorrer (a pé ou a carro, não interessa)? Não tenho raízes ou história nesta terra mas de cada vez que lá passo, é uma experiência avassaladora para os sentidos. Não me canso de olhar, ouvir e provar (sim, porque à parte da massa, é sempre uma boa semana gastronómica) e lá, realmente faz sentido tapar os ouvidos com as mãos para não ver. Ou subir o rio na expectativa de encontrar algo novo na próxima curva. Ou justificar com projectos de fotografia ou desenho o voltar à infância e apanhar rãs num charco qualquer.
Tudo faz mais sentido e as coisas parecem estar no seu devido lugar: a hera a trepar por um carvalho, o uivar de um lobo no meio do nevoeiro, espécies reaparecidas no alto de uma fraga; conversas ou jogos da sueca (cuidado...) à lareira na companhia dos ratinhos. Mesmo a chuva que teimou em marcar presença e outras coisas menos boas fazem muito mais sentido. Não é melancolia que me assola (embora aconteça por vezes), é um sentido de comunhão com a terra. Se acreditasse numa religião, provavelmente seria um culto pagão (embora não numa taberna pseudo-celta). É então assim, de alma serena, que retorno ao trabalho. Vamos a ver se todas as canções das Xanas que trouxe comigo me dão paz de espírito para aturar as próximas semanas.
E é um facto, as sementes que trouxe comigo hão-de germinar e dar fruto.