terça-feira, junho 28, 2011

Experiências

Águia-sapeira (Circus aeruginosus) macho adulto


Esboço com guia de marcha directa para a pasta dos abortos... ou ainda será aproveitável? Será que consigo fazer um projecto só com esboços e rabiscos? Será o uso gatafunhos e cadernos de campo um tema tesável?

segunda-feira, junho 27, 2011

Sobre sangue e cerejas

Às vezes há momentos de inspiração e as palavras parecem escorrer do cérebro para os dedos e teclas do portátil. Outras vezes, nem por isso. Parece-me que não tenha muito a ver com os episódios e estórias a relatar e durante este fim de semana, riquíssimo, como sempre, em momentos bloguísticos, não tivesse eu ido parar novamente a Coimbra e arredores, andei a compor mentalmente qualquer coisa para fazer o relatório da visita. Começa a fazer-se notar a pressão por parte de alguns ilustres leitores em retomar a escrita regularmente de modo a ser devidamente apreciada.
Apreciada como em escreve senão vais parar ao fundo do Paúl da Madriz.
Felizmente nunca exigiram que escrevesse coisas bonitas e lisonjeiras. Senão por esta altura já tinha a minha cabeça decepada espetada num pau de bambú com uma carriça a fazer o ninho na minha órbita esquerda, como sinal para escribas mais incautos.
Em retrospectiva, tudo nos últimos dias pareceu girar em torno de assuntos sanguíneos: mais uma edição de um curso de formação de vampiros, a fazer esguichar litros de sangue de jugulares de passarinhos bebés e fofinhos. A súbida de sangue à cabeça a deixar-me uma veia da testa a latejar quando oiço fundamentalismos. A belíssima cabidela de galinha sofregamente consumida em Brasfemes na noite de Sábado; a descida de sangue da cabeça para o estômago umas horas depois, de modo a permitir fazer a longa digestão do galináceo mas impedindo-me de manter acordado numa saída à noite Coimbrã. O sangue das melhores cerejas do mundo a escorrer pelos dedos, ao serem degustadas e a pingar para a roupa já nos pomares da Serra da Gardunha Domingo de manhã. O calor a apertar ao longo da manhã a injectar de sangue as caras dos cerejólogos, só refrescados com água da fonte ou sentados à frente de uma pratada de cabrito grelhado com batatas à murro.


Belíssimo.

quarta-feira, junho 22, 2011

Retomar o trabalho



Fuzhong, Mestre em procrastinação.

Tese subordinada ao tema:


"Estudo comparativo de diferentes metodologias de adiamento de tarefas e subsequente resolução de problemas causados por prazos de entrega - a perspectiva da inspiração Last Minute Panic"


Eu e as minhas grandes ideias...

domingo, junho 19, 2011

Regresso à Lagoa

Pois é, parece que afinal, destilar um bocado de veneno até compensa e hoje deu para acompanhar uma sessão na Lagoa de Albufeira, sem ter de recorrer a requerimentos à Presidência da República ou a fazer promessas a Santa Anilha, padroeira dos alicates. Ainda perdido de sono e a fazer a digestão das alheiras e farinheiras, num espaço completamente alterado pelos cursos das ribeiras e crescimento desenfreado de salgueiros e caniços, montou-se e desmontou-se redes e passaram-se vários passarinhos pelas mãos, a ressalvar a vasta família de guarda-rios e isto tudo feito por apenas 3 marmanjos.





Ainda deu para tirar umas fotos e a melhor, ainda que desfocada, foi esta:



Raposa (Vulpes vulpes)

Na Tasca tosca

Parece que estamos a voltar a uma escrita algo mais regular. Será pelo multiplicar de eventos, será pelo estímulo que a troca de galhardetes que um post recente causou, não sei. Mas é tempo de fazer uma crítica gastronómica.



O jantar de ontem, numa onda "traz um amigo também", reuniu uma dúzia de convivas ali para os lados do Mercado da Ribeira e, se não fosse a boa disposição e galhofas presentes, o sítio tinha ido parar directamente à minha lista negra de restaurantes e afins. Salvou-se a sangria, que não era má, as azeitonas e o pão e um salpicão fatiado. Pois, só isso. Houve uma série de sinais premonitórios que nos devia ter feito levantar e ir comer caldo verde e bifanas noutra barraca da praça (ainda se vivia o espírito dos Santos populares por estes lados):



O frio polar fora de época para aqueles lados e a mesa reservada era na rua;

O empregado começar a conversa com um "isto está muito demorado" - quem é que começa a promover um produto ou serviço desta maneira? O que é verdade é que estava mesmo e ainda a optarmos por pedir petiscos e coisas rápidas a sair, só começou a chegar comida consistente lá para as 23h;

O pão e as azeitonas virem acompanhados de umas tigelinhas com diferentes azeites gourmet a que foi feita uma apresentação tipo prova-de-vinhos. Foi aí que o meu radar-anti-palermices-pretenciosas-intelectualóides começou a disparar;

Pedirmos coisas -pataniscas de polvo - que uma hora depois "ah afinal já não temos";



É verdade que os petiscos pedidos, todos eles gordurosos e fritos, chouriços e alheiras, farinheira com ovos, pataniscas de bacalhau e por aí fora, não ajudaram muito a fazer a digestão e, apesar de ter havido algumas coisas boas, esta tasca mesmo muito tosca, apesar de se querer mostrar muito fashion não convenceu mesmo.

terça-feira, junho 14, 2011

Instantâneos do fim de semana #2

Merops apiaster prestes a encher o bandulho às crias


Uma primeira tentativa de fotografar os abelharucos deu azo ao diálogo do fim de semana:


Cidadão (mandando parar o carro do Carduelis) - olá, sabes (gosto da familiaridade do tu cá, tu lá) porque é que não consegues fotografar os pássaros?
Fuzhong e Carduelis (entreolham-se pensando no que aí viria) - Não...
Cidadão - É porque eles só estão cá 4 meses no ano!
Fuzhing e Carduelis - Ah... Ok, obrigado! Então adeusinho


WTF?! Os pássaros estavam ali e foram fotografados. O livro era o mesmo mas estávamos em páginas diferentes.

Instantâneos do fim de semana #1

Arzila by night

segunda-feira, junho 13, 2011

Produção científica ao quadrado

É certo e sabido que, fora um ou outro devaneio mais artístico, este é um blog essencialmente científico (o que não quer dizer mentalmente são) e é uma constante essa busca e divulgação de conhecimento. Este fim de semana não foi excepção e os paúis do Baixo Mondego assistiram a vários potenciais prémios Nóbeis a trabalhar em grande e estes são alguns dos artigos (ainda não publicados) que resultaram de horas de trabalho dedicado:



Veneno, F. Butterfly Fever - first detection of Flavivirus particles on butterflies and it's connection with human cases of dementia and other behaviour disorders. Appl Environ Microb 77(12) 2011 (in press)

Pessoal, se achavam que os passarólogos eram loucos ou nerds, os borboletólogos estão muito mais à frente. Foi difícil conter os risos com borboletas a sofrer morte súbita, camaroeiros a voar e pitas histéricas. É sempre bom aprender coisas novas, surpreendeu pela diversidade de lepidópteros esvoaçantes mas acho que também não devo ser muito bom da cabeça para ir meter-me dentro do paúl de Arzila às 2h00, que mais parecia palco de uma cena de contacto com extra-terrestres.



Veneno, F. Adaptions and survival in the extreme environment of Paul da Madriz. Ecology 92(6) 2011 (in press)

As coisas que um tipo faz para ir meter umas anilhas nas patas de meia-dúzia de scirpaceus. Como não me safo na região de Lisboa e arredores, foi necessário fazer cerca de 200 kms para Norte e outros tantos para Sul para conseguir estar presente numa sessão de anilhagem científica. Claro que esta é uma actividade de elevado risco para a saúde, quer pelas horas de privação de sono, quer pelas valas do paúl onde nos afundamos e sentimos as ilhargas refrescadas pela aquela água insalubre, quer pelas areias movediças que quase me tragaram, quer pelos inúmeros cortes de caniço nos braços que me fazem parecer um qualquer carocho heroinómano, quer pelos mosquitos atómicos que por lá vivem. obviamente, nem tudo é mau e apesar de não ter havido pitos novos, foi altamente andar com uma pistola-aspirador a recolher aranhas e lacraínhas e a enfiar tubos goela abaixo dos passarinhos. Isso e o convívio, é claro.



Veneno, F. Feeding strategies of vertebrates in the Lower Mondego Area. Nature 474(7351) 2011 (in press)

Programa que é programa não estaria completo sem os momentos da nutrição. Desde frugais frangos assados e pizzas, passando por francesinhas monumentais, pão-de-ló e bolo-dos-cornos acabados de fazer, até à jóia da coroa, que foi o leitão e a respectiva cabidela com bolo de amêndoa e gila de sobremesa, muito se comeu entre Coimbra e a Figueira da Foz. Nem que seja pela parte gastronómica, sinto-me sempre muitíssimo bem recebido naquelas bandas. Claro que se me mudasse para lá, como muito o PQT e o PMA insistiram, acabava morto ao fim de 6 meses com uma cirrose hepática, as articulações cristalizadas com ácido úrico e o sangue transformado em manteiga. Mas com um sorriso na boca, enquanto lambia os beiços da última refeição de chanfana de cabra.

Interlúdio

Ultimamente os momentos de silêncio têm sido mais longos que os de escrita. Não que não se passe nada fora da blogosfera - passam-se sempre coisas, mais ou menos estranhas: casos fascinantes, investigações mirambolantes, congressos, cangurús, projectos, petiscos e jantaradas e por aí fora.


Sem querer fazer promessas vãs, a ver se a coisa volta a ser mais dinâmica. A ver vamos.