terça-feira, setembro 30, 2008

APAA - TPC

Vejam lá se não sou um gajo aplicado (pelo menos para a galhofa) e como atendo prontamente os pedidos que me fazem (mais rapidamente os que me interessam)?. Apesar de ainda serem rascunhos, qual ou quais é que gostavam de ter ao peito na próxima reunião da APAA?

Opção 1 "Ring 'till die"


Opção 2 "Eu levei um'anilha"

Opção 3 (e a minha preferida) "Ringer's most Wanted"

Encontros imediatos de III grau

Mais uma prova que o mundo é um penico.
Entrei hoje no metro, ainda a recuperar das 8 horas de aulas e 3 de lidas clínicas da véspera e a preparar-me para uma sessão de contabilidade - mas sempre orientada pela contabilista mais fixe do universo e arredores (não me vá ela lixar o IRS) - quando reparo num gajo a folhear um guia de campo de aves.
Vá lá, compreendam, estava cansado e acabrunhado, o veneno deve ter sido mais forte que a carne - finalmente, conseguiram que interiorizasse este alterego tão simpático que é o Dr. Veneno (a verdade é que me permite mais algumas liberdades literario-criativas) - e não pude deixar de pensar:
Daaasssee! Mas quem é o cromo que lê isto no metro? Deixa ver se o conheço.
Querem saber? Era o PeF regressado dos estates! De certeza que não deve ter levado a mal este pensamento trocista doutro bird-nerd! Realmente, qual seria a probabilidade e conjunto de efeitos-borboleta e teorias do caos para o encontrar naquele local e aquela hora?

domingo, setembro 28, 2008

Operação Limícolas Norte-Sul

Ontem a noite começou com jantar no Barrete Verde e a congregação Norte-Sul, com serviço um pouco mais demorado do que é costume mas com o polvo à lagareiro afinado, como é habitual. Infelizmente a refeição deixou alguns convivas na mesa com uma grande azia - e não foi da sobremesa - e, no meu caso, com um torcicolo no pescoço de estar a ver as desgraças que se passavam na televisão.
A operação começou realmente quando as quase duas dezenas de pessoas presentes abriram os quase 354 Kms de rede que o Dr. Salinas tinha distribuído pelas salinas. Das 23h de Sábado até às 9h de Domingo, bateram-se novos records de privação de sono, de disparates e de 201 bichos capturados, alguns provenientes de paragens tão distantes como Bruxelas, Estocolmo ou Londres. Podia ficar por aqui, falando do sucesso da campanha, deambulando entre descrições de espécies, enaltecendo as suas plumagens albas salpicadas aqui e ali de lodo mas na verdade, isso não interessa nada. Deve haver umas quantas alminhas mortinhas para me verem a mudar para o modo "Dr. Veneno" e dar a minha visão particular das coisas. Sempre pautada pelos princípios da verdade e da imparcialidade. Pois aqui vai:
Descobri (como se não soubesse já) que os anilhadores são seres competitivos. Sempre dentro dos limites do razoável... mas eu já tenho os cromos #95, #96 e #97. Incha!!!! E teria chegado ao 99, não fosse terem aproveitado a minha ausência para dar conta de umas Limosas e de uns Calidris alba. Mas hádem cá vir pedir dopping para os pombos que eu mando-vos a um sítio.
#95 Calidris minuta

#96 Charadrius hiaticula

#97 Sterna hirundo

Não me deram descanso esta noite e à minha caixa de curandeiro; eram Limosas sentadas, Pluvialis encharcadas, Calidris com dói-dóis na asa e por aí fora. Nem uns pobres bichos escaparam de serem violentados para pesquisa da gripe dos pitos.

Assisti a verdadeiros bicos. As pobres das Sternas vão precisar de acompanhamento psiquiátrico e uma até ficou a modos que petrificada.

Voltei das salinas com os ouvidos a tilintar. E não, não eram os bichos que faziam muito barulho...

Pois é, imagino que, como sempre - e fazem-me pior do que sou - estavam todos à espera que viesse aqui dizer coisas feias mas já deviam estar fartos de saber como gosto de sessões tão concorridas e com tão ilustres visitantes. Resta-me agradecer a companhia e os lindos livros oferecidos pelo nosso autarca (era a hora da graxa institucional) e que possamos reunir em breve.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Passatempo Guia de Campo

Os meninos e meninas que já tinham saudades dos famosíssimos passatempos aqui do sítio ponham o dedo no ar! (isto sou eu já a treinar o ar professoral) Viva! Ontem entregaram-me esta pena para identificar a que espécie pertencia. Eu consegui! E vocês, conseguem?



Vá, eu dou uma ajuda, é de uma Ave não extinta (o que reduz para cerca de 10.000 hipóteses). E também têm de me dizer de que parte do corpo é que a pena caiu/foi arrancada. O primeiro a acertar ganha um prémio, que obviamente é surpresa.
Vamos lá a animar este espaço e pôr o site meter a deitar fumo com tantos comentários!

Eu e os hamburgueres-gourmet

Ontem fomos comer numa fast-food chique no Picoas Plazza e a escolha do que comer avizinhava-se difícil, tendo em vista as fotografias de uns hamburgueres e saladas com alguns ingredientes com nomes impronunciáveis. Optando por um ménu (hamburguer+batatas fritas+sumo natural) sai-me o senhor do balcão com este diálogo:
-E para beber?
(Eu)-Que sumos tem?
-Temos morango com manjericão, pera com redução de moscatel e (qualquer coisa que nem lembrava ao diabo) com canela.
-Yack! E sumos normais não tem? (enquanto pensava naquele desfile de mixórdias)
-Temos de laranja... (aqui tornou-se visível o ar de desconsolo na cara do senhor)
-Ufa, isso é normal que chegue! pode ser.
-Mas olhe que o de morango com manjericão é um ex-libris da casa... (ainda tentou ele)
-Pois, fica para a próxima!
Chamem-me insensível, se calhar não sou o gourmet que achavam que era mas morango com manjericão soa tão deliciosamente bem como arroz doce com oregãos! E tanta sofisticação para os hamburgueres estarem frios...
Para a próxima vamos à roulotte das bifanas, sim????

94 e a contar!!!

Cotovia-de-poupa (Galerida cristata)

quarta-feira, setembro 24, 2008

Às vezes não dá vontade?

Cyanide and Happiness, a daily webcomic
Cyanide & Happiness @ Explosm.net

Pois, hoje é dia de Nenuco...

terça-feira, setembro 23, 2008

Drácula pós-moderno


No passado fim de semana, tal como referido, a estreia de Sábado à noite não foi só o noitibó. As redes também tinham um morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus) para retirar, que aparece na foto ao lado inteirinho. E para, efeitos do que se vai escrever a seguir, faz de conta que tinha umas luvas calçadas.
Toda a gente está careca de saber algumas características dos Quirópteros, voam, orientam-se por eco-locação, a maioria das espécies é nocturna, etc., etc. Também são mais do que conhecidos alguns mitos que rodeiam estes bichos, que se emaranham nos cabelos, todas as histórias de vampiros, condes Dráculas, blá, blá, blá. Mas, provavelmente bastante pior do que senhores feudais da Transilvânia por aí a voar e a morder pescoços alheios, é a caixinha de surpresas que um morcego pode ser.
Na Europa, a par das raposas e de outros carnívoros silvestres, os morcegos são o principal reservatório silvático da raiva. Na verdade, uma única espécie, o morcego-hortelão (Eptesicus serotinus) é responsável por cerca de 95% dos casos de exposição a Lyssavirus na Europa. No Sul da península Ibérica, as populações desta espécie foram recentemente reclassificadas como E. isabellinus, que também está presente no Norte de África e o seu papel na epidemiologia destes vírus foi investigado. Concluiu-se que cerca de 20% dos indivíduos das colónias amostradas em Huelva, Sevilha e Granada apresentavam ou anticorpos anti-EBLV (European Bat Lyssavirus) ou presença de RNA na saliva ou outros tecidos. [Vázquez-Morón 2008]
Repararam nas localidades? Tanto quanto se sabe, os morcegos desconhecem o conceito de fronteiras e é bastante provável que do lado de cá também haja alguns morcegos (e quiçá outros seres) raivosos. Enquanto as autoridades acharem que é suficiente só vacinar os cães domésticos como peça fundamental do plano nacional de luta contra a raiva, nunca se vai chegar a saber exactamente qual a situação desta e de outras doenças no país. Por enquanto, continua a existir um bocado a política "o que não sei, não existe".
Mas há muito mais. No Sudeste asiático, dois Henipavírus, semelhantes a Paramyxovirus (que causam varíola e outras coisas giras), o vírus Nipah e o vírus Hendra (responsáveis por meningoencefalite no Homem), têm sido detectados anticorpos em cerca de 50 % dos indivíduos das colónias de raposas-voadoras (Pteropus spp.) estudadas. [Wild 2008]
Para além disso, diversas espécies de morcegos têm sido implicados como reservatório de vírus Marburg [Swanepoel 2007], de Ebola [Wong 2007] e de Coronavirus muito semelhantes ao que foi responsável pela epidemia de SARS. [Cui 2007]
Isto tudo para dizer que após este contacto imediato de III grau e de alguns morcegos orfãos qu passaram por casa, já tenho desculpa pela fama (imerecida) de mau feitio ocasional. É que são os vírus na cabeça...

And the winner is...



Há muito tempo que não via um filme tão mau como este, tão mau que consegue ser pior que o Bewoulf e a sua Angelina Jolie com saltos imbutidos ou como aquele filme em que a Catherina Zeta-Jones era chefe de cozinha. Mais uma vez, não fui eu que escolhi a peça e a única coisa que dá para tirar de positivo é que de certeza que qualquer coisa que veja daqui para a frente vai parecer uma obra-prima.
E porque é que, perguntam vocês, torna esta película tão má, ao ponto de deixar o Júlio Verne aos pontapés na cova?
Não será certamente pelos passarinhos cavernícolas fluorescentes que existem desde há 150 milhões de anos. Nem pelas trilobites terrestres. Nem pelos plesiosauros com pescoço bamboleante. Nem pelas plantas carnívoras que assobiam e vão atrás das pessoas. Nem pelas rochas magnéticas flutuantes. Nem pelos outros 232092 disparates pseudo-científicos que quase me deixaram com uma apoplexia.
É porque o filme é simplesmente MUITO mau...

domingo, setembro 21, 2008

O som dos noitibós

Os noitibós são aves insectívoras de hábitos nocturnos que, apesar de se encontrarem por todo o mundo, sobretudo nos trópicos, são relativamente pouco conhecidas. Em Portugal ocorrem 2 espécies: o noitibó-europeu (Caprimulgus europaeus), que tive a oportunidade de anilhar esta fêmea juvenil na foto este fim de semana (ver post anterior) e o noitibó-de-nuca-vermelha (C. ruficollis), ambos migradores estivais.
Os noitibós são tradicionalmente incluídos na família Caprimulgidae que, juntamente com as famílias Eurostopodidae, Nyctibiidae, Steatornithidae, Batrachostomidae, Podargidae e Aegothelidae, formam a Ordem Caprimulgiformes. Recentemente, toda a filogenia das Aves tem vindo a ser revista e os Aegothelidae parecem estar mais próximos dos andorinhões e inclusivé, vários autores propõem agrupar todas as Aves nocturnas numa única Ordem, juntando assim corujas, mochos, noitibós e famílias aparentadas.
A família Caprimulgidae contém 4 grupos filgeneticamente distintos: um, composto pelo género Chordeiles, outro composto por géneros sul-americanos (Uropsalis, Eleopthreptos, Hydropsalis algumas espécies de Caprimulgus), um terceiro composto por espécies do velho mundo (Caprimulgus e Macrodipteryx) e um último, composto por espécies norte-americanas (Phalaeonoptilus nutalli e Caprimulgus vociferus). Desta forma, o género Caprimulgus é considerado parafilético e provavelmente provenientes de uma expansão de noitibós ancestrais provenientes dos Neotrópicos; em termos correctos, apenas as espécies de África e da Eurásia devem ser incluídas neste grupo. Existem 2 razões para esta confusão na classificação e discordância entre classificações baseadas em características morfológicas e outras baseadas na filogenia: primeiro, ocorre uma retenção de comportamentos anti-predador e de captura de presas em grupos distintos; segundo, em grupos geneticamente próximos, ocorreu uma rápida divergência de outros comportamentos, como os de corte e defesa de território, que levaram por sua vez a uma diferenciação morfológica. [Larsen 2007, Barrowclough 2006]
Todas as espécies têm hábitos nocturnos, plumagem de tonalidades e padrões crípticos, que lhes permitem camuflar-se na vegetação do solo ou em ramos das árvores. O hábito de muitas espécies pousarem longitudinalmente nos troncos, em vez de transversalmente, como a maioria das Aves, permite aumentar esse efeito mimético. Todas as espécies são também insectívoras e alimentam-se em vôo, podendo deslocar-se vários quilómetros numa só noite, orientando-se e localizando as presas através da visão e conseguindo capturá-las com as suas bocas largas rodeadas de vibrissas sensoriais.
Os noitibós são mais frequentemente ouvidos que vistos e, sobretudo os machos, despendem grande energia na defesa do território, entrando em balanço energético negativo e perda de peso em Junho. Pequenas variações dos sons típicos chrrrr permitem identificar até 95% dos indivíduos presentes numa determinada área, tendo sido utilizados para seguir movimentos destas aves e testar a sua fidelidade ao longo dos anos ao mesmo território de reprodução. [Rebbeck 2000]
Apesar da sua presença discreta, os noitibós têm algumas características comportamentais interessantes tais como uma heterotermia diurna. Esta adaptação é comum a várias espécies e parece ser ancestral na Ordem, permitindo aos animais poupar energia durante o dia, quando não estão activos e contam com a sua capacidade mimética para evitar predadores. Em algumas espécies a temperatura cutânea pode descer até aos 20º C, sobretudo no Outono e Primavera. Algumas espécies americanas são também as únicas espécies de Aves a hibernar durante o Inverno.[Lane 2004]
Outro facto curioso é a sincronização dos ciclos reprodutivos com o ciclo lunar. Isto ocorre para que os juvenis, quando saem do ninho (feito no solo) e começam a caçar, aproveitem as noites de lua cheia, quando há mais luminosidade, de maneira a facilitar a obtenção de alimento. [Mills 1986]
Devido ao seu aspecto estranho e desconhecimento da sua biologia, os noitibós também se encontram envoltos em alguns mitos. Um deles, refere que se alimentam de leite de cabras, ideia que terá certamente surgido da observação mais frequente destas aves sobre rebanhos domésticos quando a proveitam a maior concentração de insectos nesses locais para se alimentar. Outro mito refere ainda que os noitibós, quando prturbados, mudam ovos e crias no ninho em vôo mas não existe uma única descrição fiável na literatura. [Jackson 2007]
E... já chega por hoje. Mais cromo-posts em breve!

Os pássaros: o próximo nível

Depois deste fim de semana, tornei-me uno com as penas e os ciclos de muda deixaram de ter segredos para mim.
Claro que continuam a existir as p***a das Cettias e outros bichos do demo com mudas semi-simétricas-imparcialmente-incompletas e outros pormenores e excepções plúmeos. Claro que durante este 1º curso de muda em Passeriformes europeus (a foto do lado é dum pato-real, que não é passeriforme, mas serve para lembrar que as penas até podem ter algum interesse) houve momentos em que os complicómetros de algumas pessoas começaram a carburar a pleno deixando-me a pensar que, subitamente, o curso estava a ser dado em chinês. Claro que muito mais interessante que as penas são as comunidades de ácaros, piolhos e moscas parasitas que lá vivem.
Mas... o saldo foi extremamente positivo, sobretudo porque os mestres zen El Presidente y el Vice, imbuídos de infinita paciência e sapiência, lá foram corrigindo os erros nos cartões de bingo (convém ir mantendo um nível saudável de graxa para continuar a ir a sessões de anilhagem - será que também consigo desconto nas quotas da APAA?). Ainda houve tempo para jantarada onde, mais uma vez, fiquei com imerecida fama de comilão, dormitórios de Motacillas flavas com 170 e tal caminhas e dois cromos novos:
Um noitibó (Caprimulgus europaeus), que elevou a minha quota anilhadeira a 93 cromos - quando chegar ao número 100 acho que mereço um prémio - e que, a seu tempo, vai ter um post exclusivo só para si;
Um Pipistrellus pipistrellus, que obviamente não é um pássaro mas é muito mais fixe que estes (os passarinheiros que me perdoem a heresia), que também vai ter direito a um post só para si e que, a partir de hoje, graças ao meu contacto com este espécime, certamente raivoso, já tenho desculpa médica para o meu suposto mau feitio quando acordo cedo ou estou a trabalhar até tarde (não faço ideia onde é que as pessoas vão inventar estas calúnias...).
Se eu não tive nota 20 no curso foi porque o neurónio já não funciona bem com 3 horas de sono mas esta primeira edição passa com distinção!

sexta-feira, setembro 19, 2008

"Happiness is only real when shared"

É a grande conclusão deste filme que só tive oportunidade de ver esta semana em dvd. Será que havia alguma mensagem subliminar para os meus eclipses nas serras e nos montes? É que... Alasca sim mas só com o restaurante de Palaçoulo ou umas alheiras para assar!

quarta-feira, setembro 17, 2008

30!!!

Na passada sexta-feira alcancei esta provecta e assustadora idade - eu sei que toca a todos mas achamos que nunca chega a nossa vez de no tornarmos oficialmente "cotas" - e, ao contrário dos últimos anos, não passei mais um aniversário no alto de uma montanha ou no fundo de um carvalhal qualquer, sem electricidade, telemóvel ou internet. O, que tenho de dizer, com alguma pena minha (se bem que esta perspectiva não seja bem aceite por algumas pessoas).
Isso poderia explicar o atraso deste post a assinalar o acontecimento. Ou que talvez estivesse em fase de negação. Felizmente, a realidade é bem mais simples: desde sexta à meia-noite que tem ocorrido uma sucessão de festas, almoços e jantares, passando pelas mais diversas localidades e que me tem mantido afastado de manifestações bloguísticas.
A transição dos 20 para os 30 foi assim bastante tranquíla e a presença de muitas pessoas importantes e a capacidade de me conseguirem surpreender com algumas prendas facilitou esse processo. Por isso, obrigado!
Nota: para o ano volto a celebrar o aniversário no monte. Se vier à cidade a cada 10 anos deve chegar, não?

sábado, setembro 13, 2008

Regresso ao Gerês


Ao Douro seguiu-se o Gerês, com um caminho meio atribulado, contrariado por não me deixarem ir à feira do Naso e a apanhar procissões intermináveis. Foi bom regressar à casa de Pitões, comer o bacalhau da praxe no D. Pedro, passar pelo planalto da Mourela, descer até Tourém, falar com caras conhecidas na aldeia e encontrar o rio Salas a correr baixinho com trutas a deslizar entre as pedras.
Mas faltou alguma coisa (e não foram só os pássaros, que para piscos e chapins vou ao jardim ao lado de casa) que tornou este reencontro um nadinha menos bom. E sei que por mais que pense que em certos contextos provavelmente não irei regressar, todas as paisagens de pedra, os carvalhais e os lobos a uivar à noite querem-me fazer crer que estou enganado. É que pode-se tirar um gajo do Gerês mas não tirar o Gerês do gajo.
Mas nem tudo é menos bom, ainda houve direito a um cromo novo. E a certeza que devia ter jogado no Euromilhões quando pedi: "Quero uma Pica!" e tcharam! Tinha uma dessas pegas aos guinchos na mão.

Pega-rabuda (Pica pica). Pormenor da asa.

Regresso ao Douro



A primeira de semana de Setembro foi marcada pelo regresso ao planalto Mirandês, desta vez sem burros nem gaitas-de-fole e em que a paisagem das fragas foi substituída pelos matagais, campos agrícolas e sebes cheias de amoras.
Foi a oportunidade, não só de encher o olho das belas paisagens e o estômago de belos manjares, mas enquadrado em mais uma expedição anilhadeira, encher a caderneta de cromos difíceis. Claro que uma agricola sempre é uma agricola mas estes passarinhos são bem mais giros que um rouxinol castanho, ainda que fora de rota. Mas mais importante que fazer colecções, foi a oportunidade de rever amigos e caras conhecidas destas paragens numa campanha de anilhagem que primou pelo excelente ambiente. Melhor só seria se 2 dias encatrafiado no jipe tivessem permitido a captura de um certo passarão (neste caso, passarona) mas há que ter sempre desculpas para regressar à região. Mais fotografias, só mesmo das cruzinhas novas. E vá, vamos a ver se algumas pessoas não ficam com os alicates verdes de inveja.

Toutinegra-de-bigodes (Sylvia cantillans). Aqui pareciam substituir os pardais, pelas multidões capturadas desta espécie. Parece que as hortas de Atenor são campo de reprodução ou de passagem na sua rota de migração para África.


Toutinegra-real (Sylvia hortensis). Foi sem dúvida, a estrela da semana. A captura de adultos e juvenis ainda sem acumulação de gordura levanta a suspeita que a espécie se reproduza nas imediações. Decididamente a aprofundar as investigações.



Pega-azul (Cyanopica cooki). Eu sei que os bandos que adundam no interior do país a tornam muito comum mas foi dos bichos que mais gostei de anilhar. (pormenor da asa).



Rabirruivo-de-testa-branca (Phoenicuros phoenicuros). Ainda que fosse um juvenil ainda sem a plumagem plenamente desenvolvida foi a prenda de despedida. Mais precisamente, para o Sócio, que deixou anilhas em duas espécies novas. De vez em quando o gajo até merece uns prémios.