sexta-feira, maio 29, 2009

Caderno transmontano

Apesar de correr o rumor de que por terras de Miranda o cérebro fica vazio, ainda se consegue fazer umas coisicas por lá. Como nem só de pássaros vive o Homem (pelo menos, eu), nos intervalos da laboração foi possível rabiscar umas coisas no caderno de folhas manhosas:

É inevitável a presença da fauna, quer sejam chapins, cobras-de-ferradura (que tive o cuidado de não expor aqui o desenho a bem de alguns leitores mais impressionáveis), águias de braço ao peito (ou, juntamente com a velhinha a quem demos boleia, as boas acções para os próximos 2 meses) - nem aqui me livro do meu trabalho convencional.

Lá, os dias parecem dilatar, tantas são as coisas que se consegue fazer (ou talvez porque se corte forte e feio nas horas de sono). Quando regresso, parece que foi um instante que passou. Regressar a Lisboa na hora de ponta também não ajuda nada à re-adaptação ao meio urbano. Blherque!

Toda esta actividade foi sempre intercalada com mini-sestas no banco reclinado do QI ou deitado na manta a comer a bela da talhada de melão enquanto se admira o porte de alguns sobreiros (a cadela Mora é um castro laboreiro para ter noção da escala).

Felizmente, o próximo capítulo é já o "Caderno Berlengueiro"!

quinta-feira, maio 28, 2009

Era uma vez...

... 3 reis magos que rumaram ao Nordeste Transmontano para ir conhecer o mais novo ornitólogo português. Enquanto que um seguiu por Sul, salvando vários exemplares da fauna autóctone de morrerem esborrachados na estrada ao mesmo tempo que ia coleccionando ofídios engarrafados, os outros 2 seguiram por Norte, passando pelo Hotel da reunião anual dos diabéticos anónimos, onde apanharam 4 Ptyonoprogne rupestris (bois...).
Lá se encontraram na aldeia de Atenor, onde o menino realmente apareceu por volta da meia noite e, embora tivesse sido muito fácil arranjar por essas paragens um burro e uma vaca, a imagem da natividade foi completada por gatos e cães, enquanto se acendia a lareira - sim, em Maio - e se assavam umas alheiras.
Nos restantes dias, entre a bela da paisagem mirandesa e montando vários acampamentos índios, passareiros e amigos deram bastante ao alicate e este vosso caríssimo regressou com 3 cromos novos. Ora contemplai:

Merops apiaster

Oriolus oriolus

Miliaria calandra

Com esta história tão palerma não pretendi recriar o presépio versão mirandesa até porque virgens marias e imaculadas concepções... yeah right! No entanto, as referências natalícias fora de época eram tantas que não deu para evitar a comparação. Até porque andava toda a gente com um sorriso estampado na cara porque tinham recebido mesmo um grande presente.

Bem vindo, FFJ!

quinta-feira, maio 21, 2009

De uma assentada, toda a palavra do Senhor

Ontem foi noite de teatro e hoje ainda me doia a barriga e os masséteres de tanta gargalhada alarve. Se calhar as pessoas da fila da frente também ficaram com os ouvidos a tilintar mas atrás de nós havia uma senhora com uma risada ultrasónica que, simultaneamente foi responsável pela Engª Saramuga ficar a ouvir zumbidos e pela minha gargalhada suprema, já na rua.
Se ainda não tinha lugar garantido no inferno por outras coisas, passei a ter depois de ver esta peça a transbordar de heresias. E de finíssimo humor.

terça-feira, maio 19, 2009

Em repeat

"Elephant Gun" é apenas a ponta de um iceberg chamado Beirut, com cada música melhor que a anterior. Haverá melhor banda sonora para desenhar anuros endémicos de ilhas do Golfo da Guiné? Ou para desenhar o que quer que seja?

Work in progress


Enquanto espero pelas sugestões do Sócio, decido avançar com a ideia das Sylvias. Paralelamente com as víboras às pintinhas, killies incompletos à espera de serem terminados, psitacídeos emigrantes, anfíbios endémicos insulares e procedimentos cirúrgicos passo-a-passo. E porquê esta sofreguidão desenhadeira quando em toda a vida devo ter terminado meia dúzia de desenhos?

segunda-feira, maio 18, 2009

Gosto

Banda sonora do fim de semana.
"Blood" de Sufjan Stevens, versão original dos Castanets, integrada na colectânea "Dark was the night".

"Desolha, ó!"

Feira do Livro. Gelados e farturas. Secas da Dra. Pulha. Sardinha assada. Museu do Chiado. Concerto de Lula Pena. Bzzz bzzz flash bzzz. Exposição dengosa de pintura da Roménia. Copos na Bica. Falar de música e cinema, claro. Longa caminhada até aos carros. Brunch. Melhor pão do planeta e croissants do careca. Dormir a sesta e desviar-me de frisbees assassinos em Belém. Museu de Etnologia. Exposição de Pinturas Cantadas. Concerto de Yesterday. Dificuldade em processar os falsetes. Concerto de Noiserv. Muito bom. Mais lanche. Decadência a acabar a noite a ver excertos dos Globos de Ouro e italianos possuídos pelo demónio.
Tudo isto num fim de semana abençoado pela Fatinha. E também pela Senhora da Afogada que cumprimentou os seus seguidores com um "Oie carinõ..."
Às vezes sabe muito bem deixar os pássaros e as lagartixas lá nos sítios onde vivem. Só tive pena de não andar com o caderno de campo e a caneta.

quarta-feira, maio 13, 2009

Contagens decrescentes

Ainda este mês regresso aqui:

E depois aqui:

Animal do Mês de Maio

Uca tangier

Decididamente e por razões óbvias, o escolhido desta rubrica mensal é mesmo o caranguejo-violinista ou boca. Se calhar estavam à espera que escolhesse o camaleão (Chamaeleo chamaeleon) mas diverti-me muito mais a fazer esboços de um animal que, apesar de invertebrado, dá um toque de clima tropical às salinas e margens da ria Formosa.
Este exemplar, que como é habitual está incompleto, teve camadas sucessivas de lápis azul, canetas sakura, aguarelas e marcador branco.

Pela tardinha

A partir de ontem, as expedições fotográficas pela tardinha passaram a ter o acrescento do moleskine de folhas manhosas. Mesmo assim, dá para me divertir com a tinta-da-china.

sábado, maio 09, 2009

Lagoa e (a)variações

Não sei bem porquê mas depois desta última semana a fúria dos cadernos de campo voltou ao rubro. Por isso, decidi aproveitar um moleskine manhoso que andava perdido numa gaveta com um papel estranho meio hidrófobo e dar-lhe uso.
Hoje na Lagoa apanhou-se passarinhos de manhã e garças bebés à tarde. E muita chuva. Cercados por água por cima e por baixo que mais parecia as monções da Índia, num barco a exceder a lotação esgotada, com pessoal a ficar com água pelo pescoço e trovoadas a fazer pontaria aos remos metálicos dá que pensar um pouco no que se anda ali a fazer.
Por isso tenho muita pena, os institintos de sobrevivência e o pouco bom senso que me resta falaram mais alto, e chega de garças e ovinhos. Que tenho um caderno novo para encher de desenhos.

sexta-feira, maio 08, 2009

Detalhes

Wheck!
A música
Depois da rádio Fóia, existe a rádio Gilão e toda uma nova dimensão de programas radiofónicos e o reportório infernal de música popular portuguesa de um certo leitor de MP3 que fez com que desse a trautear ou a assobiar coisas inomináveis. Felizmente, a viagem de regresso, deu para limpar os ouvidos e a banda sonora desta semana foi, não a "Rata de dos patas" mas sim, "Instant Street" de dEUS.
A comida
Pois é, não podia faltar a crítica gastronómica. 5 estrelas para o melhor restaurante de terras algarvias (a base de operações), onde se comeu e bebeu melhor. Chili, salsichas com couve lobarda, rojões, galo caseiro no forno, sardinha assada, caldeirada e outros petiscos, sempre regados com uma lista de vinhos tintos que perdi a conta.
As expressões
Que medo tive quando ontem ainda fui trabalhar. Porque depois de uma semana a ouvir Wheck!, peguei num búzio e em cima da mesa púzio, o bico ubíquo e outras coisas que diversificaram o meu vocabulário, não me responsabilizo pelo que digo.

A prova!

O desenho foi transportado para uma nova dimensão: a aquática. Quero mais!
Aqui, os agradecimentos vão para o Rodas, que emprestou a máquina para as fotos e para o Dr. Salinas que emprestou a máscara.

Snapshots

Uma ínfima amostra do que se fez pelos reinos dos Algarves:

Estudos de Fulica atra e Egretta garzetta a grafite. E um grande bem-haja ao JP e ao Sócio por terem emprestado o telescópio e o tripé que permitiram fazer as observações.

Recanto do pinhal ao pé da base de operações. Pincel de água com tinta da china.

Uma couve de sapal que agora não me lembra o nome. Grafite e aguarela.

Apesar do elevado grau de fixeza dos camaleões, não me cansei de desenhar Ucas. Esta é uma fêmea esboçada com lápis de cor azul, grafite e aguarela.

Missão cumprida!

A Missão Camaleão, primeira em que participei full-time, foi completada com sucesso. Viu-se e ilustrou-se o camaleão e as Ucas, paisagens de sapal, ria e pinhal, árvores, arbustos, ervas e couves várias, pássaros, passarinhos e passarões, cobras e lagartos e tudo o que passasse pelo pelos vários pares de olhos e mãos da equipa.
No fim, 6 míseros dias souberam a pouco, parece que fui ontem para o Algarve e regressei sem conseguir fazer um risco que fosse. Claro que tudo é relativo e o caderno e 1/3 preenchidos com rabiscos apontam o contrário mas a verdade é que só ao fim de 4 dias é que entrei mesmo no ritmo, depois de ameaças várias de corte de mãos, atirar as folhas à ria e, sobretudo, um grande abanão que (acho) me fez dar um salto no tipo de registo gráfico. A oportunidade de trabalhar com os mestres tem coisas destas.
Ainda fica bastante trabalho pela frente embora o que dê mesmo vontade é refazer o caderno I - ou melhor, regressar à ria Formosa e recomeçar do princípio. Chegar a Lisboa à hora de ponta, enquanto o resto do grupo ainda fica com mais 2 dias para trabalhar, também só aguça a vontade de voltar depressa para o campo que, se o tempo o permitir, é já amanhã.