quinta-feira, julho 09, 2009

Henkelotherium guimarotae

Que estranho, estarão alguns a pensar, um desenho completo. Mesmo que não o pareça, é mesmo para ficar assim. Aliás, nos próximos dias a produção de artes finais vai ter um pico e alguns leitores mais assíduos vão estranhar encontrar aqui coisas sem serem esboços ou caricaturas saídas do caderno do campo.


E porquê? Porque na verdade eu gostava era que um dia o Guia de Campo aparecesse nos Scienceblogs e porque de vez em quando tenho estes devaneios nerd. Nada de novo, portanto.


Mas porquê este bicho? Para começar, Henkelotherium guimarotae é um mamífero Driolestóide antigo, de pequenas dimensões (o comprimento da cabeça e corpo não ultrapassava uns 6-7 cm de comprimento), viveu no final do Jurássico e como se pode ver pelo cladograma ao lado (Ji 2002), ocupa uma posição evolutiva intermédia entre mamíferos ancestrais, como Morganucodon, e outros mais modernos. Felizmente, foram encontrados esqueletos praticamente completos e foi possível estudar bem a fundo a sua anatomia. Simultaneamente, estão presentes características anatómicas modernas, como a presença de uma fossa supra-espinhosa na escápula ou um colo do fémur bem definido, e outras, como a presença de côndilos assimétricos no fémur, consideradas primitivas (embora estejam presentes em algumas famílias de mamíferos modernos como tupaias e marsupiais didelfídeos) (Vazquez-Molinero 2008).
Para além disso, a coluna dorsal flexível, a cauda longa e falanges compridas sugerem adaptações a um estilo de vida arborícola ou, pelo menos, adaptado à locomoção num meio ambiente tridimensional. Todas estas características sugerem ainda um tipo de mobilidade moderna (mobilidade da escápula, abdução/adução dos membros, etc.)
Recentemente, os seus ossos do ouvido foram submetidos a exames de TAC e, novamente, foram detectadas características consideradas primitivas e outras mais derivadas, que permitiam detectar sons de alta frequência, tal como fazem os mamíferos modernos (Ruf 2009).
Finalmente, os fósseis desta espécie foram encontrados em Guimarota, perto de Leiria, colocando Portugal no mapa do estudo da evolução dos mamíferos mesozóicos (os fósseis de Haldanodon, outro mamífero jurássico basal também são tugas). Na altura, a região teria um ecossistema semelhante às Everglades, alternando zonas pantanosas com zonas de vegetação densa, habitat onde um mamífero de pequenas dimensões e arborícola se poderia movimentar com facilidade.
Mas a grande questão deve ser mesmo: porquê esta urgência em acabar desenhos? A ver vamos.

4 comentários:

ArtByJoão disse...

:)

Sabe-se lá como, mas eu até sei qual é o motivo da urgência...

:)

Erica disse...

Tá cool o teu bicho acompanhado de informação ciêntifica. Tem um ar esbugalhado tipo aquele famoso do Ice Age.
Olha, vê lá o que é que fazes senão ainda aparece mesmo alguém para te cortar os dedinhos!

Fuzhong! disse...

Não tem nada a ver! Este é muito mais fixe (e eu detesto a ice age).

Entretanto, estou a aprender a desenhar com os pés :)

PeF disse...

Tu não des cabo do efeito surpresa... ;)

Um destes dias, roído de curiosidade, fui a Leiria procurar a mina da Guimarota com dois amigos.

Encontramos o local da dita, sim, e uma urbanização novinha em folha construída por cima das galerias inundadas.

Como é que a autarquia Leiriense permite que seja construido todo um bairro em cima de uma mina abandonada? Será que os compradores sabem o que compraram? E se houver um sismo, como é ter um bairro inteiro em cima de galerias?

E isto são apenas as dúvidas do ponto de vista do risco cívil, nem vou falar da tristeza que é ter um local fabuloso como a Guimarota fechado e abandonado.