segunda-feira, julho 16, 2007

5 coisas que desconhecia sobre pirilampos


Quem pensava que ia falar do pirilampo mágico, aqueles bonecos que mais parecem bolas de cotão estrábicas, desengana-se; hoje apetece-me é mesmo escrever sobre pirilampos, que na verdade são Insectos (Ordem Coleoptara, Família Lampyridae). No fim de contas, este blog chama-se Guia de Campo e não Guia da Solidariedade. Também espero que no fim, achem estes pirilampos (os verdadeiros) bem mais interessantes e mágicos que os outros.
No outro dia, a falar com o Xefe fiquei a saber que houve há bem pouco tempo em Portugal uma Convenção internacional sobre os pirilampos (!) e que reuniu lá para os lados do Porto cerca de 50 profissionais (!!), entre biólogos, bioquímicos e etólogos, que se dedicam única e exclusivamente ao estudo dos diferentes aspectos da vida destes bichos. Como eu achava que os pirilampos eram basicamente uma meia dúzia de espécies de insectos que iluminava as árvores durante as noites de Verão na terra da minha avó, fiquei surpreendido com o conhecimento que existe sobre eles. Como por esta hora já deito toxoplasmas e projectos pelos olhos, resolvi fazer uma pausa, mudar de tema e partilhar o pouco que fiquei a saber sobre estes bichos. Afinal, até é um post bonzinho, sobre partilha (escusam de agracecer).
  1. Afinal existem um pouco mais de meia dúzia de espécies; ao todo, há cerca de 2000 espécies de pirilampos espalhados por esse mundo fora. Os adultos possuem orgãos luminescentes na parte posterior do abdómen, mas não possuem o exclusivo da luz; há espécies cujas larvas e mesmo os ovos são bioluminescentes. Também a família em que estão incluídos (Lampyridae) não detém esse exclusivo, já que outras famílias de Coleópteros (Elateridae, Phengodidae) também são capazes de produzir luz. A bioluminescência também foi desenvolvida por outros grupos animais (várias famílias de Peixes Teleósteos, Anelídeos, Cefalópodes e outros) e através de diferentes processos biológicos.
  2. A bioluminscência nos pirilampos adultos tem 2 finalidades principais: A primeira, mais conhecida, é utilizada como forma de comunicação intra-específica entre machos e fêmeas, durante o período de acasalamento. Os machos tendem a emitir padrões típicos de luz, geralmente de locais altos ou em vôo, que as fêmeas respondem, geralmente do solo, com outro padrão característico. Pensa-se que a bioluminescência tenha evoluído inicialmente nas larvas, para afastarem potenciais predadores. Contudo, esta capacidade é utilizada com outros fins, bem menos simpáticos que a procura do parceiro para dar umas pinadas e propagar a espécie. As fêmeas de algumas espécies simulam os padrões de luz de outras espécies de pirilampos de modo a atrairem os machos, que acabam por ser devorados (as putas!). Outras espécies também fazem o mesmo tipo de simulação para atrair pirilampos e apropriarem-se de substâncias repelentes de predadores que estas contém.
  3. O processo bioquímico (nem acredito que estou a escrever esta palavra) da bioluminescência ocorre em células especializadas (fotócitos) e assenta na presença, numa primeira fase, de uma enzima, Luciferase e de ATP, que juntas produzem Pirofosfato e Luciferil-adenilato-luciferase; este último, quando em presença de Oxigénio, produz Oxiluciferina, Luciferase, AMP e Luz! o controlo da produção de luz, de modo a serem produzidos os padrões característicos de cada espécie, são controlados por um sistema de enervação própria do abdómen e pela inibição do consumo de oxigénio nas mitocôndrias, sistema complexo controlado por Óxido Nítrico (que entre outras coisas, também serve para manter a nossa pressão sanguínea, eliminar bactérias fagocitadas no interior de macrófagos e é um dos principais factores no controlo da erecção do pénis- sim, o Viagra mexe no sistema de Óxido Nítrico).
  4. O processo de bioluminescência é extremamente rentável, sendo produzida virtualmente 100 % de luz com esta reacção química, ao contrário de uma lâmpada incandescente, em que são produzidos 10 % de luz e 90 % de calor.
  5. Para variar, as populações de pirilampos estão em fase de regressão, que pelo uso de pesticidas que têm um efeito letal directo, quer pela perda de habitat adequado, quer pela "poluição luminosa" criada pelo Homem, que interfere na comunicação entre os animais. O que é uma pena, pois algumas moléculas que participam no ciclo de produção de luz têm potencial para serem utilizadas no tratamento de alguns tipos de cancro.

Alguma asneira ou correcção?

5 comentários:

Anónimo disse...

Gostei, apesar do teu comentário acerca do " Pirilampo Mágico" ter sido inconveniente.
Além disso, verifiquei que parte do conteúdo foi decalcado do livro de Armando Gervásio " Luzinhas da Terra Fria" 2ª Edição, 1998 Edições Guantanamera.

Já pensaste em escrever algo acerca dos três porquinhos e do Lobo Mau, ou melhor acerca das taratarugas ninja. Qual será a reacção quimica que faz com que as tartarugas sejam exímias lutadoras de kung fu, que perante a ameaça dos malfeitores, desferem rudes golpes e pontapés.

De qualquer das formas, dou-te os Parabéns pela forma como as tuas invenções conseguem atrair a curiosidade dos navegadores cibernéticos, que como eu, tiveram a paciência de ler tudo até ao fim.

Parabéns e continua a escrever, para eu poder comentar.

Fuzhong! disse...

Boas! Obrigado pelo comentário e para ler estas coisas até ao fim. Por acaso, parte do conteúdo foi adaptado de 2 sites na net, que entretanto perdi o link (se calhar foi onde o sr Armando Gervásio também foi tirar algumas ideias para o seu livro).
Prometo posts sobre tartarugas, lobos e porquinhos para breve.

Fuzhong! disse...

Ah! e como já deves ter reparado, o que não falta por aqui são comentários inconvenientes pois este não é um guia de campo politicamente correcto :)

Anónimo disse...

Tenho uma casa no alentejo em Avis e sinto saudades dos pirilampos que via na minha infancia. quais as condiçoes pra eles se reproduzirem???

Pardal disse...

Sim senhor... um comentário rico científicamente, a roçar no humor negro, com umas ondas realistas!! uma boa forma de evitar o enjoo a quem procura informação só por necessidade! Sou um amante da Natureza e vi-o por acaso...e ainda bem! Ainda que faltasse falar um pouco da diferença entre as larvas e os adultos, não deixou de ser ilucidativo! continua a escrever desta forma sobre a "bichesa" e não te metas em "B.D's". Parabéns!!